quinta-feira, 26 de julho de 2012

Um vidro quebrado.


Um gole. Um soluço. Uma lágrima. A ordem era praticamente essa naquela noite. Sentada no sofá da sala, sozinha, com a garrafa de vinho no chão ao meu lado, eu bebia sem pensar. Ou pensava também. Difícil de lembrar. Já era a terceira garrafa daquele vinho barato e doce que deixa na boca um gosto misturado e saboroso, e com o qual não sinto quando perco os sentidos. E eu precisava disso. Precisava perder os sentidos.
Simplesmente, precisava. Não sei por que, como, onde, quando. Só sei que precisava e fiz. Fui a pé ao mercado do bairro e comprei seis garrafas de vinho, uma barra de chocolate, uma caixa de lenços descartáveis e uma taça. Quebrei a minha na parede tentando acertá-lo. Lembrando do que aconteceu apenas horas antes, rolei de rir. Assistir àquela cena seria cômico ou trágico. Escolhi a comicidade. 


Ele veio como um gato, silenciosa e alinhadamente, com aqueles olhos grandes, verdes e brilhosos, me contar uma novidade. Uma amiga estava grávida. Até aí, tudo bem, apesar de eu não gostar dessa amiga. Apenas um detalhe: ele era o pai da criança.
O chão sumiu. Empalideci. Não tive grandes reações. Nem sequer chorei. Só gritei, gritei como uma louca que acaba de descobrir que seu time ganhou a Copa Libertadores da América. Pelo menos, os decibéis foram parecidos. E joguei nele todas as taças que estavam em cima da mesa. Uma pena que minha pontaria seja péssima. Errei todas.
Fiquei sem taça. Uma hora depois, quando consegui recuperar a cor e a voz, fui ao mercado. De repente, já estava abrindo a terceira garrafa e não sentindo efeito nenhum. Fiquei só sentada no sofá tomando o vinho. Não pensava em muita coisa. Estava apenas me preparando. Não sabia exatamente para quê, mas estava me preparando.
Quatro garrafas vazias. Agora, sim, estou ótima. Não estava com raiva. Era determinação. Saí de casa. Um jardim. Uma porta. Um homem. Uma faca. Um pescoço. Um desmaio. Um espelho. Meu fim, mas fim dele também. 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Solteira, sim. Sozinha...

O quê? Uma pessoa não pode ser solteira porque quer? Alguém me responde, por favor, quem falou para aquele carinha, que dançou duas músicas comigo naquela festa, que eu estou procurando um namorado? Não querendo ser grossa nem nada disso, mas quando eu falo que estou solteira, logo vem alguém 'todo se querendo' pra cima de mim, achando que eu estou a procura de um grande amor. 
Não que eu queira ser solteira para todo o sempre, só não estou no momento de querer curtir outra pessoa. Quero curtir a minha companhia, quero investir na minha carreira profissional e acadêmica, quero evoluir espiritualmente e intelectualmente. Não preciso de um marido para ir a uma festa e dançar até o sol nascer, como não preciso de um acompanhante para ir à confraternização da empresa e tomar 3 shots de tequila com o meu chefe, tampouco é necessário um peito cabeludo para eu deitar na cama com uma taça de vinho e um bom livro nas mãos. Não que seja proibido. Só não é necessário.

Então, a pessoa é legal com alguém que não deu uma cantadinha feita e ridícula, mas simplesmente disse 'Oi, quer dançar?' e esse tal, ao saber que ela é solteira, acha que se for um pouco simpático vai conseguir uma paixão repentina. Quem dera eu fosse romântica a esse nível! Não que eu seja anti-romantismo. Até gosto, mas na medida e na hora certas, e não esporadicamente e com qualquer pessoa. Sou direta e reservada com meus sentimentos, apesar da externa ser mais 'atirada'. 
Solteira, sim, e com convicção. Não tenho vergonha, problema, pudor em dizer que me viro muito bem sozinha, obrigada. Apesar de gostar de uma companhia, acho que nenhuma é melhor do que a minha. Passo horas conversando comigo mesma, escrevo textos, tomo um vinho, leio um belo livro e conto piadas a mim mesma. Não fico imaginando o dia em que me casarei ou em que conhecerei aquele homem por quem me apaixonarei à primeira vista. Tudo bem, isso varia de personalidade e opiniões, mas ainda prego e sempre pregarei que a melhor companhia de alguém deve ser a dela mesma. Ninguém melhor que você para entender suas angústias, felicidades, olhares e gestos. Assim como não há melhor que você para conhecer seu corpo, sua mente, suas palavras e seus textos (por que não?). 
Quando eu conseguir realmente me curtir, ser quem eu sou sem vergonha, admitir meus erros e pensamentos grotescos e saber aproveitar a minha companhia, talvez eu realmente procure alguém. Mas quero alguém que também saiba se aproveitar.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Saia curta. Romance também.


Loura, alta, seios fartos, bumbum arrebitado e coxas bem torneadas. Um corpo de dar inveja a qualquer mulher, rosto bem desenhado e delicado como uma boneca de porcelana. Eu a vi e quase caí duro, mas fiquei em pé. Duro, também. Ela ainda estava usando um vestidinho curtinho e coladinho, digno de ‘paniquete’ em ensaio fotográfico, mas nela fica mais feminino. Ah, ela me olhou.
Meus amigos já estavam babando por ela, mas ela olhou para mim e todos repararam. Demorei apenas alguns minutos para pegar uma bebida para ela (afinal, eu sei abordar uma mulher na balada) e fui falar com aquela loura exuberante. Novinha, ela conta apenas vinte e duas primaveras, mas lábios vermelhos e olhos verdes penetrantes. Meus pensamentos penetram nela de outras maneiras, mas não consigo desviar o olhar de seus olhos.
Conversamos, dançamos, paguei algumas bebidas e consegui levá-la comigo. Os camaradas que viram comemoraram como se fossem eles os felizardos da noite. Não a levei para casa, lógico. Mesmo morando sozinho, não levo menina de balada para a minha casa, sem ter certeza de que gosto da companhia dela o suficiente para não mandá-la embora depois do sexo.
Conheço um motel bom, bonito e barato, e que ainda faz sucesso. Entramos na suíte e aconteceu de tudo um pouco. Meus pensamentos prévios não eram nada comparado àquela performance. Mas era apenas uma performance. Não era natural, não parecia natural. Era como se aquela mulher de corpo maravilhosamente esculpido tivesse aprendido todas as etapas do sexo num filme pornô de fundo de garagem.
Não que fosse algo ruim, era ótimo, fazia tudo certinho, mas era certinho demais. Não era espontâneo, leve, solto, livre, gostoso. Era mecânico. Senti como se ela quisesse me mostrar que era boa de cama para eu me apaixonar por ela. Não me apaixonaria nem que ela realmente fosse boa de todas as maneiras.
Ela me quis pelo meu corpo, afinal, não se interessou por onde eu trabalho ou o que eu estudo na Universidade. Perguntou onde eu malho, que baladas eu freqüento e que tipo de carro me pertence. Desculpa, fofinha, mostrou-se uma perfeita ‘maria-gasolina’, adorou os drinks gratuitos e quer tentar me fisgar. Não, não conseguiu. E não vai conseguir.
Não é uma crítica à roupa ou às adeptas as roupas curtas, mas apenas uma opinião de um homem que se interessa em mulheres de verdade para companheirismo, e em menininhas assim para diversão. Elas sabem que são gostosas e que nós as achamos gostosas e usam isso para chamar nossa atenção. O problema é que, após conseguir a atenção, elas não se interessam de verdade por nós. O real interessa se mostra no começo, na paquera, no flerte, na brincadeira. Nesse primeiro contato deve-se mostrar a quê veio. 
Essa loura linda vai, no máximo, para a geladeira. Mulher que preza mais o corpo à inteligência ou ao caráter é isso. Um lanchinho. Um passatempo. 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Fall.

A cama era macia e seus braços, acolhedores. Dormi com você. Apesar de eu me mexer muito durante o sono, você não reclamou. Você apenas se acomodou juntinho de mim em cada posição que eu parava. Dormindo ao seu lado, sonhei com você. Sonhei que estávamos dormindo juntos. Não é incrível? Eu sentia o seu toque, o calor dos seus braços em mim, sua respiração na minha nuca, e me arrepiava inteira em meu sonho. Enquanto eu o sentia comigo, eu o via comigo. Mais realista que esse sonho, não deve existir.
Quando acordei, pensei que encontraria meu quarto escuro, como sempre. Abri os olhos e me vi em sua cama, no seu quarto, com você sorrindo e com um brilho diferente no olhar. Perguntei o que você estava olhando e por quê estava sorrindo daquele jeito, e você respondeu: 'Você sonhou comigo.' Fiquei espantada. Como você sabia? 'Você disse meu nome. E disse que me ama.' É. Sonhei com você. Enrubesci no mesmo instante e você, rindo, me beijou apaixonadamente. Encostou sua boca perto do meu ouvido e disse, num claro sussurro: 'Eu também te amo.'
Ah, como eu queria ser sua e ser ali mesmo, mas você tinha planos para o nosso sábado ensolarado. 'Café da manhã na cama para aquela que me ama', escrito num bilhete junto à bandeja em cima da cama, e eu não pude deixar de dar gargalhadas. Tão involuntário quanto foi o 'eu te amo', e era verdadeiro. Foi um sonho que não foi sonho. Eu realmente dormi com você, abraçados, enlaçados, enamorados. Eu te amo, e já te amava há algum tempo, mas a covardia era teimosa. Já devo ter feito declarações de amor dignas de filmes de Hollywood, enquanto dormia sem você.


Uma música tranquila, o sol entrando pela janela, nos convidando a aproveitar o dia belo e fresco de outono, nos convidando a comemorar aquele amor. Mas não dava vontade de sair da cama. Eu não queria sair dos seus braços, não podia sair de perto dos seus beijos, não conseguia ficar longe dali. Você já tinha planejado um dia inteiro, meu querido, mas eu o convenci a ficar em casa, na cama, em mim. Fazendo um joguinho esperto, abriu um belo sorriso e disse que 'tudo bem, tudo o que você quiser'. Acho que o fez para que eu me apaixonasse. Não era necessário. Eu já estava perdida. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Nossos versos

Tudo começou de repente, como uma brincadeira. Pura diversão. E terminou tão rapidamente quanto tal início. Nos conhecemos melhor, e o que era para ser apenas sorrisos e bons momentos se transformou em lembranças e choros.
As lágrimas secaram, o tempo já passou, mas a memória gosta de voltar para me assombrar. Enquanto eu vivia um momento de minha vida cheio de tensão e negatividade, você me abraçou e deu brilho ao meu olhar. Com palavras bonitas em meio a beijos e carinhos, me fez acreditar, depois d muito tempo, que havia algo bom no mundo. E que era você quem iria me mostrar.
Quando eu achei que poderia mergulhar de cabeça, eu me joguei. Acabei batendo numa pedra e tendo que voltar. Voltar para uma realidade onde eu finjo ser uma solteira convicta que não pensa em se apegar, apenas em se divertir. Voltar aos dias em que me permito chorar apenas abraçada ao travesseiro. Voltar aos sorrisos lindos em frente ao espelho, ensaiando a melhor maneira de esconder a tristeza por trás desse olhar. A tristeza que só eu consigo enxergar.
Nossa história foi assim. O verbo é no passado, porque não existe mais "nós". Sinceramente, não tenho certeza se você algum dia pensou em nós dois com o coração. Se eu fui só um passatempo, não importa mais. Nunca importou realmente O que aconteceu já está morto. As raízes continuam firmes, mas as folhas já apodreceram e não há mais flores.
De repente, tudo começou. Durou pouco, e mais de repente ainda, tudo acabou. E o fim? "Happily ever after" é coisa de contos de fadas. Nosso poema foi breve e enfático, cheio de estrofes complicadas e rimas ricas. São as últimas linhas que me tiram o sono:
"E ele saiu feliz.
E ela ergueu a cabeça e enxugou as lágrimas."