Um
gole. Um soluço. Uma lágrima. A ordem era praticamente essa naquela noite.
Sentada no sofá da sala, sozinha, com a garrafa de vinho no chão ao meu lado,
eu bebia sem pensar. Ou pensava também. Difícil de lembrar. Já era a terceira
garrafa daquele vinho barato e doce que deixa na boca um gosto misturado e
saboroso, e com o qual não sinto quando perco os sentidos. E eu precisava
disso. Precisava perder os sentidos.
Simplesmente,
precisava. Não sei por que, como, onde, quando. Só sei que precisava e fiz. Fui
a pé ao mercado do bairro e comprei seis garrafas de vinho, uma barra de
chocolate, uma caixa de lenços descartáveis e uma taça. Quebrei a minha na
parede tentando acertá-lo. Lembrando do que aconteceu apenas horas antes, rolei
de rir. Assistir àquela cena seria cômico ou trágico. Escolhi a comicidade.
Ele
veio como um gato, silenciosa e alinhadamente, com aqueles olhos grandes,
verdes e brilhosos, me contar uma novidade. Uma amiga estava grávida. Até aí,
tudo bem, apesar de eu não gostar dessa amiga. Apenas um detalhe: ele era o pai
da criança.
O
chão sumiu. Empalideci. Não tive grandes reações. Nem sequer chorei. Só gritei,
gritei como uma louca que acaba de descobrir que seu time ganhou a Copa
Libertadores da América. Pelo menos, os decibéis foram parecidos. E joguei nele
todas as taças que estavam em cima da mesa. Uma pena que minha pontaria seja
péssima. Errei todas.
Fiquei
sem taça. Uma hora depois, quando consegui recuperar a cor e a voz, fui ao
mercado. De repente, já estava abrindo a terceira garrafa e não sentindo efeito
nenhum. Fiquei só sentada no sofá tomando o vinho. Não pensava em muita coisa.
Estava apenas me preparando. Não sabia exatamente para quê, mas estava me
preparando.
Quatro
garrafas vazias. Agora, sim, estou ótima. Não estava com raiva. Era
determinação. Saí de casa. Um jardim. Uma porta. Um homem. Uma faca. Um
pescoço. Um desmaio. Um espelho. Meu fim, mas fim dele também.


