segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Mas entenda: são fases.


Lágrimas se juntavam à água do chuveiro que escorria em suas costas. Ela precisava desse banho. Ou achava que precisava. Na verdade, ela tinha a necessidade de se libertar. Respirar fundo, deitar na cama e dormir tranquilamente era um privilégio que ela não desfrutava há meses.
Ele entrou em seu cérebro como uma substância alucinógena. Ela provou uma, duas, três vezes e não conseguiu evitar: viciou-se. Ela mesma não entendia como, mas era mais forte que sua vontade. O cheiro, a pele, o calor, o toque, a voz, o beijo, o gosto, tudo era incrivelmente único, só dele – e dela. Era um relacionamento que se tornou obsessão. Ele veio, rápido, rasteiro, deu um beijo, fez amor, e se fez marcar na memória dela.


Como um veneno, ele se espalhou e ela podia jurar que sentia a textura de sua pele nas mãos, mesmo ele estando longe. Ela sentia seu perfume em todo lugar, ouvia sua voz em qualquer música, o queria a qualquer momento. Se o propósito era esse ou não, ninguém sabe. Não há como saber. Mas ele a drogou de si mesmo e saiu. Uma noite, um lençol, uma cama, dois corpos. Levantou, vestiu-se e caminhou porta afora.
Ela viu, mas achou que era um sonho. Afinal, estava completamente ‘chapada’ dele. Então percebeu que não era sua imaginação. Ele realmente foi embora. E seu vício? Como ficaria sem a droga à qual ele a apresentou? Impossível, talvez. Disseram que se ela tivesse força de vontade, conseguiria manter-se ‘limpa’, mas ela não queria. Não queria mais pensar nele. Se não era mais possível saciar sua sede, queria-o longe de sua vida. Mas não conseguiu mais viver.


A água do chuveiro estava morna e, misturada às lágrimas e ao sangue, escorria em seu corpo. Os cortes estavam visíveis em seu corpo nu e sua pele clara já perdia o brilho. O vício não a soltou. Mas ela esqueceu que aquela obsessão não era boa ou ruim, era apenas uma parte de sua história. E ela sabia. Já aprendeu em outras partes de seu mundo, com outros cheiros e bocas, mas só pensava nele. O vício era saudável enquanto era bom para os dois. Quando ela deixou de ser seu maior e mais inquietante desejo, ele tratou-se e deixou de usar sua droga. Ele precisava de outra substância. Ela também. Mas ela não conseguiu. Ela não entendeu. Ela não lembrou.

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