Comecei a entender. Sim, finalmente compreendi minha repentina fixação
por leitura. Sempre gostei de ler, mas não da forma compulsiva que li os
últimos seis livros em três meses. Leio no ônibus, no intervalo do trabalho,
nas horas vagas, antes de dormir, ouvindo música, comendo... Achava apenas que
estava ficando mais fascinada quanto às diferenças nas escritas de diferentes
autores, nas capas, nas introduções, nas páginas, nos números, nos cabeçalhos e
nos rodapés. Pensava que era normal, que o interesse havia aumentado, apenas.
Mas não, não é isso.
Na verdade, agora vejo com clareza. Não sei por que agora consigo
entender minha repentina obsessão por livros, mas percebo que agora me entendo
um pouco mais. E, por incrível que pareça, isso se dá enquanto leio sobre uma
história bem romântica, melosa, cheia de altos, baixos, lados e opiniões. O que
sempre me impressionou nos livros que li (e nos que quero ler) é como as
histórias, aquelas simples letras alinhadas, conseguem levar o leitor a
realmente ver o que é escrito, imaginar as cenas, as vozes, os olhares, as
bocas, os toques. Quase consigo sentir o cheiro do perfume dos personagens.
Então, lendo esse belo romance, entendi que não só admiro e gosto de
livros pelos mundos que conheço através deles, mas porque quero escapar do meu
próprio mundo. Uma vida inteira tentando construir um sentimentalismo, ou um
não-ceticismo, com relação à própria vida, ao mundo, às coisas, às pessoas, e o
que consigo? Uma eterna válvula de escape. Um cano de descarga. Não tão simples
assim, mas algo assim.
Há algum tempo percebo que nada é como antes. Não há amigos, não há
sorrisos sinceros, olhares diferentes ou abraços calorosos. Meus dias são tão
monótonos quanto podem ser. Uma consulta ou outra em diferentes especialidades da
medicina é o que diferencia as segundas-feiras das quintas-feiras, até mesmo
das sextas-feiras. Houve um tempo em que ser sexta-feira significava festa até
as 4 horas da manhã de sábado. Hoje, significa que posso ficar mais tempo
deitada no sofá sem fazer coisa alguma, sem me preocupar com horário para
levantar no outro dia. Triste. Eu sei.
Porém, os livros me dão uma energia que não tenho em meu dia-a-dia. A
história surpreendente e imprevisível deixa-me aflita, querendo descobrir o
próximo passo, a próxima bomba, o próximo beijo, a próxima morte. E, assim,
praticamente emendo um livro no outro. Mal fecho um livro, abro o próximo. Não
me preocupo em confundir as histórias, afinal, são todas muito diferentes. Mas
temo virar uma sonhadora patética, que apenas lê e vive lendo, vive através dos
livros e dos sonhos por conseqüência.
Enfim, descobri o motivo do meu atual prazer quase orgástico em ler
tantos livros, tão seguidamente. Poder me perder sem precisar juntar os cacos
depois. Viver sem medo das conseqüências, afinal, elas não são exatamente
minhas. Sentir tudo e não precisar sentir nada. Ser quem eu possa ser. Pelo
menos, no mundo imaginário.


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