quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Preste atenção. Sempre.

Ele continuou me olhando. Fixamente. Não entendi o motivo da surpresa estampada em seu rosto. Ele estava assim havia alguns minutos. Estávamos sentados à nossa mesa preferida em um lindo restaurante, conversando e acertando alguns detalhes do nosso jantar de noivado, previsto para o mês seguinte. Enquanto eu explicava sobre vestidos, decoração e conferências antes do jantar, algo apitava intermitentemente. E me interrompia sempre.

Toda vez que o celular apitava, ele olhava, digitava alguma coisa e voltava a me encarar. Às vezes, ele realmente parecia prestar atenção. Outras vezes, ele só olhava o celular, a espera de mais um apito. E foi quando, após outro apito, ele pegou o aparelho, sorriu e digitou alguma coisa que minha paciência chegou ao limite.

Era uma noite fresca. Todas as janelas do restaurante estavam abertas e nossa mesa era muito próxima às janelas. No próximo apito do celular, antes que ele pudesse se mexer, peguei-o e, num movimento rápido, joguei-o pela janela. Depois voltei minha atenção ao meu noivo. E ele fixou seus olhos nos meus, boquiaberto, quase em choque. Algumas pessoas também olharam em minha direção, ainda mais quando um carro passou por cima do celular, mas logo voltaram às suas refeições.

Namoramos há cinco anos. Ele sempre foi meio distraído, mas nunca tanto quanto hoje, nunca tanto quanto depois de ter comprado essa porcaria de celular. Se quiser usar antes de dormir, após as refeições, não tem problema. Comigo, pelo menos. Mas estamos falando do nosso noivado, é nossa festa, é nosso futuro.

De repente, ele começou a fazer um escândalo. Sim, parecendo uma criança contrariada. Eu ouvi sem prestar atenção. Perguntou se estou louca, se acho que dinheiro nasce em árvore, se penso que ele pode ficar sem celular. Não respondi a nenhuma pergunta. Deixei-o esbravejar, xingar, espernear, como se deixa uma criança gritar e chorar até que canse. Ele cansou também.

Sentou-se, apoiou a cabeça nas mãos e disse que não aceitaria isso. Não aceitaria ser noivo de alguém que joga seu celular pela janela. Eu ri. Mas eu ri tanto que dei gargalhadas. Eu sabia da sua traição. Ele estava me traindo com uma colega de trabalho. E falei para ele que eu descobri tudo. Pensei em vingança, mas eu o amo e não é o caminho que eu quero seguir.  “Se somos feitos um para o outro? Não, acho que não somos. Mas construímos uma vida até hoje e eu não quero abrir mão dela. Espero que você reconsidere”, eu disse.

Levantei, saí do restaurante, chamei um táxi e fui para casa. Dois dias depois, ele me ligou algumas vezes. Eu estava chateada. Não queria mais ser traída, mas realmente o amo, e sei que ele me ama. Não é questão de perdoá-lo ou não. É questão de escolha. Eu o quero. Sem precisar repensar. Quando, por fim, atendi sua ligação, ele pediu perdão e pediu que eu o encontrasse no parque.


Quando cheguei, ele estava com um buquê de flores nas mãos, um sorriso maravilhoso no rosto e, ajoelhando, me pediu em casamento mais uma vez. E, novamente, previsivelmente, aceitei. Afinal, nos amamos. E o celular novo dele é bem mais simples. Faz apenas ligações. Preferencialmente, para mim.


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